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A Adolescência Criminosa sob a Ótica Psicanalítica 

O filme “Adolescência”, que retrata um jovem que assassina uma colega a facadas, evidencia uma problemática complexa:  os adolescentes como parte ativa nos crimes. Obviamente, isso não é nenhuma novidade. São inúmeros os casos que vemos de adolescentes participantes em crimes, inclusive como “os cabeças”.

A pergunta sempre continua à mente: por que um adolescente faz isso? A transgressão é, conhecidamente, parte fundamental da adolescência, pois é através dela que o jovem questiona valores e se constitui como sujeito. Contudo, para que a transgressão seja produtiva (como mentir aos pais ou cabular aula), é necessário que existam leis bem estabelecidas e que não produza efeito destrutivo.

Porém, quando as leis introdutórias, de constituição faltam—seja pela ausência de figuras adultas que representem a lei, seja por uma cultura que glorifica a satisfação irrestrita—, a pulsão agressiva pode se manifestar de forma brutal. 

O bullying, a falta de limites e a ilusão de onipotência (“tudo posso”) contribuem representam essa dinâmica. O adolescente criminoso não surge “do nada”. Muitas são as possíveis motivações, mas não é “do nada”. Para a psicanálise, ele pode ser fruto de uma estrutura psíquica fragilizada, onde o superego (internalização das normas) não se constituiu adequadamente; ou porque o adolescente vê na maldade uma forma válida de expressão social. Questões que não, necessariamente, são patologias. Por isso, o criminoso não deve ser colocado como doente mental, imediatamente.

A abordagem psicanalítica não busca justificar o crime, mas entender sua gênese na constituição do sujeito, considerando fatores como o inconsciente, o superego, as pulsões agressivas e a relação (ou falta dela) com a lei.  A psicanálise pode ser um acalanto em certas explicações, mas pode também ser dura, pois implica o sujeito. Para a psicanálise não adianta nada jogar a culpa no mundo e não enxergar aquilo que é próprio do sujeito nesta produção social.

De certo, sabemos que a adolescência sempre se encarregou das transgressões sociais e das transgressões das regras familiares. O adolescente, na sua formação, desconstrói os limites impostos para construir um ser em si, em outras palavras, vai se tornando sujeito na medida em que interroga valores e regras – e, por vezes, as transgride. Essa transgressão não significa crime. Contudo, para haver possibilidade de transgressão é necessário lei, limitação e regras bem estabelecidas.

Freud demonstra que o ser humano é movido por pulsões—energias que unem instinto e afeto—, às quais, se não forem direcionadas e reprimidas, podem levar à destruição. A civilização só existe porque o homem aprendeu a limitar seus impulsos, reconhecendo que “nem tudo pode”. No entanto, a sociedade contemporânea, marcada pelo individualismo e pela permissividade, enfraquece essa contenção. O adolescente atual, muitas vezes, cresce sem referências claras de autoridade, em um ambiente onde normas são frágeis e o prazer imediato é valorizado acima da construção simbólica do desejo. 

Atualmente, o que parece é atuação do princípio do prazer, onde a descarga pulsional direta não carrega em si nada de criatividade, nem nenhuma sublimação. É a satisfação pela satisfação. O indivíduo quer, ele faz. Acredita no direito de fazer o que quer, pois tudo lhe é permitido numa sociedade individualista.

Mas nossa cultura não propaga somente o individualismo, também amplia a necessidade do espetáculo como forma de ser e existir na sociedade. E com essa mistura nasce um sujeito que se guia pela satisfação pessoal, anulando ou culpando o mundo pelas suas não conquistas e espetacularizando seus pensamentos e ações. Dessa junção – individualismo e espetacularização – temos a fórmula de como o sujeito se relaciona consigo e com o outro. Não é incomum as pessoas reclamarem dos outros porque esses “outros” só fazem o que querem, desrespeitam, não se responsabilizam, sem perceber que fazem o mesmo.

O adolescente de hoje é infeliz! É infeliz porque acredita que tudo pode, pois lhe será dado. É infeliz porque não tem a possibilidade de desejar e ser criativo. É infeliz porque não tem a chance de boas transgressões. Há algo que o adolescente de hoje não sustenta. Estruturalmente não sustenta – o que se é e nem sua relação com o outro. Enquanto, as leis e as regras forem vistas como inimigas da constituição do sujeito, enquanto o discurso do “tudo eu posso” se sobrepor ao “olhar o outro” e enquanto os prazeres tiverem o “dever” de serem satisfeitos negando a realidade e a sociedade, continuaremos a assistir atuações pulsionais em forma de comportamento social, seja na agressividade da violência, na luxúria do sexo fácil e liberto, na negação do outro e na supremacia de um “eu” vazio.

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