O curta-metragem Cartas à Tia Marcelina foi o grande vencedor da 14ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema, considerada a mais importante mostra de produções audiovisuais com temática socioambiental da América do Sul. O filme foi produzido por estudantes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A premiação veio na categoria universitária, após exibição em mais de 40 espaços culturais, entre os dias 29 de maio e 11 de junho, em São Paulo.
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O documentário foi realizado na disciplina eletiva Produção de Imagem e Som, do curso de Teatro Licenciatura do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca), sob orientação da professora Ana Flávia Ferraz.
A direção e o roteiro são assinados por João Igor Macena, estudante do curso de Dança. Também participam da produção os estudantes Eduarda Sofia, Lucas Espíndola, Lino Messias e Rita Lins, dos cursos de Teatro e Jornalismo.
Corpo
Inicialmente pensado como trabalho final da disciplina, o projeto ganhou corpo e passou a circular em mostras nacionais e internacionais. A versão final do filme, com 25 minutos, estreou em dezembro de 2024 na Mostra de Filmes do Festival Internacional de Documentário de Melgaço (7º MDOC), em São Paulo.
Desde então, o documentário foi contemplado com o edital da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, e, a partir de fevereiro deste ano, percorreu várias cidades alagoanas.
O filme estreou no estado durante um evento em memória ao trágico episódio histórico de Alagoas, conhecido como “A Quebra do Xangô”.
Trajetória
A produção audiovisual narra a trajetória de Tia Marcelina, uma iyalorixá vítima da intolerância religiosa contra os povos de terreiro em Alagoas, em 1912. A história destaca o papel dela na luta por liberdade religiosa e preservação da cultura afro-brasileira.
O documentário relaciona o racismo religioso a questões ambientais e territoriais enfrentadas por comunidades tradicionais. O júri da Mostra Ecofalante destacou que o filme “merece reconhecimento por sua abordagem poderosa e multifacetada de temas cruciais. Ele tece com sensibilidade as complexas camadas da intolerância religiosa e do racismo ambiental, questões latentes e urgentes em nossa sociedade hoje”.
Para João Igor Macena, a premiação foi uma surpresa carregada de emoção.

“Recebemos a notícia com choque e felicidade, porque não esperávamos o prêmio, diante do nível acirrado da competição. Mas confiávamos na potência, importância e beleza do nosso filme. Essa temática é muito cara e sensível para nós: resgatar a memória e o legado de Tia Marcelina e da história preta de Alagoas, que por muito tempo foi silenciada e negligenciada,” celebrou João Igor.
Segundo ele, o filme também se insere no contexto do processo de tombamento da Coleção Perseverança e do movimento de preservação da memória negra em Alagoas.
“Esse audiovisual é nossa singela contribuição para informar às novas gerações sobre esse triste episódio da história, mas também sobre a resistência do povo negro. O filme denuncia a intolerância religiosa, mas também exalta a figura transformadora e disruptiva que foi Tia Marcelina,” demarca o estudante.
Seleção
Além do prêmio na Mostra Ecofalante, Cartas à Tia Marcelina foi recentemente selecionado para a Mostra Internacional de Curtas da GallerySPT, em Portugal, que acontece em setembro de 2025.
Paralelamente, os estudantes têm promovido exibições gratuitas do documentário em centros culturais, instituições de ensino, cineclubes e terreiros de Alagoas, fortalecendo o compromisso com a difusão do legado de Tia Marcelina e com a valorização da memória e das culturas afro-brasileiras.
Com texto de Lenilda Luna / Ascom Ufal