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Mercado de manutenção e peças para motocicletas ganha tração no Brasil — e exige profissionalização

O universo das duas rodas atravessa um ciclo de expansão que vem redesenhando o mapa de oportunidades para oficinas, lojas de peças e serviços especializados.

 Em 2024, a indústria instalada no Polo Industrial de Manaus registrou 1.748.317 motos produzidas, alta de 11,1% sobre 2023 — o melhor resultado em 14 anos, segundo a Abraciclo. Em 2025, o ritmo de vendas manteve fôlego: no primeiro semestre, foram emplacadas 1,03 milhão de motocicletas, crescimento de 10,33% na comparação anual, de acordo com a Fenabrave.

Esse movimento amplia o funil de demanda para o pós-venda. A frota circulante de motos ultrapassa 34 milhões de veículos — 28% de toda a frota nacional — e cresceu 42% na última década, o que consolida um mercado cativo para manutenção, peças e serviços ao longo do ciclo de vida dos veículos. No plano do emprego formal, o Sebrae aponta que o grupo “comércio, manutenção e reparação de motocicletas, peças e acessórios” empregava mais de 85 mil pessoas em 2022; apenas a subclasse de “manutenção e reparação de motocicletas e motonetas” reunia mais de 10 mil empregos naquele ano — um termômetro da capilaridade do setor.

A expansão, porém, cobra maturidade operacional. Com o aumento da base de usuários, segurança e conformidade técnica saem do rodapé e ganham o topo da pauta. A Secretaria Nacional de Trânsito registrou que, só em 2024, o SUS desembolsou mais de R$ 257 milhões com internações de motociclistas, evidenciando a importância de serviços de qualidade — de pneus e freios a suspensões e sistemas eletrônicos — para reduzir riscos e custos sociais.

Para José Carlito Pereira Filho, mecânico e empresário com 28 anos de atuação e gestor de oficina e loja de peças, a leitura é direta:

“A frota está maior, a tecnologia embarcada evoluiu e o cliente ficou mais exigente. Oficina que não padroniza processo, não investe em diagnóstico e não garante peça com procedência perde confiança e margem.”

No dia a dia, três frentes definem competitividade:

Profundidade técnica e diagnóstico. Motos modernas combinam injeção eletrônica, ABS, controle de tração e redes CAN. Erros simples em leitura de códigos ou atualização de centrais podem gerar retrabalho e litígio. “Scanner atualizado e protocolo de checklist em cada recebimento reduziram nossos retornos a quase zero”, explica o empresário.

Gestão de estoque e mix. Com uma frota pulverizada entre baixa, média e alta cilindrada, o giro depende de curadoria fina de itens críticos (pastilhas, kits de transmissão, filtros, pneus) e de um backlog previsível via histórico de manutenção. “O que parece imobilizado vira nível de serviço quando você sabe o que sai por sazonalidade e por uso — trabalho, lazer ou big trail”, comenta.

Compra inteligente e procedência. O barateamento de itens importados coexiste com a proliferação de peças de baixa qualidade. O custo do barato aparece em garantias e na reputação. “Nota fiscal, laudo, selo de procedência e política de devolução com fornecedor são não negociáveis”, reforça.

O comportamento da demanda também mudou. Com mais motos circulando diariamente para deslocamento e trabalho, a manutenção preventiva volta a ganhar espaço sobre o reparo corretivo. Para o varejo e as oficinas, pacotes com planos por quilometragem, lembretes automatizados e tabelas transparentes ajudam a fidelizar e suavizar o fluxo de caixa em meses de baixa.

No médio prazo, o setor deve se beneficiar do próprio ciclo de vida da frota. Produção e vendas aquecidas hoje significam pico de trocas — corrente, coroa, pinhão, pneus, fluidos, pastilhas, velas — daqui a 12 a 36 meses. Essa janela exige treinamento, ferramental e capital de giro. “Quem estiver pronto para atender volume com qualidade vai capturar essa curva”, avalia José Carlito.

Outro vetor de profissionalização é a regulação e a educação do usuário. Com a frota crescendo e a participação das motos no total de veículos avançando, programas locais de vistorias educativas, descarte correto de óleo e pneus e campanhas de revisão pós-chuva tendem a ganhar escala. “É bom para o cliente e para o negócio: reduz acidente, melhora performance e cria relacionamento”, diz.

Do ponto de vista macro, o setor de duas rodas mantém base manufatureira robusta e rede de distribuição madura, sustentadas por volumes recordes de produção e emplacamentos recentes — um colchão de demanda para peças e serviços que atravessa ciclos econômicos. A mensagem para quem opera no pós-venda é inequívoca: processo, pessoas e peça certa. Ou, nas palavras de José Carlito:

“No final, confiança é o nosso ativo. Ela começa na bancada, passa pelo balcão e termina quando o cliente volta — não por problema, mas por revisão programada.”

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