Nos últimos anos, o Brasil vive um colapso silencioso e coletivo na educação. Silencioso porque muitos fingem que não está acontecendo. Coletivo porque todos sentimos o impacto.
Apenas 41% dos estudantes concluem o ensino médio sem reprovação, abandono ou evasão, segundo a Fundação Itaú. O Censo da Educação Superior 2022 mostra que 3 em cada 4 jovens de 18 a 24 anos estão fora da graduação. Quase metade dos professores diz não se sentir reconhecida, enquanto 65% avaliam sua formação como inadequada, segundo o Instituto Península.
Levantamento do Datafolha indica que 7 em cada 10 pais acreditam que seus filhos perderam aprendizagem após a pandemia. O IBGE revela que 1 em cada 5 jovens de 15 a 29 anos abandonou os estudos em 2023, e a ONG Todos pela Educação (em 2019) mostrou que mais de 40% das crianças de 6 ou 7 anos não sabiam ler ou escrever.
Nas salas de aula, cresce o silêncio das ausências — físicas, cognitivas, afetivas. Crianças desmotivadas, famílias desorientadas, adultos sem perspectivas, professores adoecidos. A escola resiste, mas deixou de pulsar — da alfabetização ao doutorado, o descompasso entre o que se ensina e o que se vive virou regra.
A saída exige reinvenção profunda e um conceito ainda aberto: Educação Disruptiva. Não se trata de tendência passageira, mas de uma abordagem viva, que rompe estruturas engessadas, resgata o protagonismo do aluno e revoluciona o papel do professor. Ela nasce do incômodo — e já inspira países como Finlândia, Singapura, Estônia e Nova Zelândia, com pensadores como Clayton Christensen, Paulo Blikstein, Howard Gardner, Seymour Papert e Ken Robinson.
Sim, há resistências — inclusive institucionais. Muitos professores seguem sem apoio, tempo ou formação para mudar. Mas ignorar essa urgência já não é mais uma opção.
Não se trata de romantizar a docência, nem de descartar conteúdos. Trata-se de reconectar o aprendizado com a vida. De resgatar o sentido de ensinar. E isso exige tanto metodologias inovativas quanto uma nova mentalidade.
Práticas disruptivas geram impacto concreto: ampliam a competitividade das instituições privadas, fortalecem o retorno social das públicas e valorizam o professor — que deixa de apenas executar para se tornar autor de processos significativos.
Para os alunos, isso significa sair da posição de peça da engrenagem do sistema. Aprender vira liberdade, criação, inspiração, legado!
No Brasil, já existem instituições e educadores imersos nessa virada. Conectados com toda forma de tecnologia, mas conscientes de que nenhuma máquina ensina com ternura. E o que continuará fazendo diferença é o humano.
Ainda há dúvidas sobre os efeitos da Educação Disruptiva? Um estudo de Scott Freeman, publicado na PNAS, analisou 225 comparações entre aulas tradicionais e metodologias (inov)ativas. Constatou-se: aumento de 6% nas médias finais e 55% a menos em reprovações.
Não é modismo, tampouco achismo: é ciência!
Essa revolução não virá por decreto. Nem do MEC. Ela nasce no chão da escola, onde o professor molda os espaços — e não apenas se encaixa neles. Brota do gesto, do afeto, da decisão de não repetir no automático à sombra da palmatória.
Se algo em você grita que é hora de mudar, se ensinar ainda pode ser criativo e transformador — você já começou a girar.
A educação brasileira está falindo. A ruptura precisa ser profunda, corajosa, viva. Fingir que está tudo bem não vai resolver. Romper, sim. E reconstruir com sentido: isso pode transformar o futuro do nosso país.
E o futuro já está sentado na carteira.
Dra. Nívea Alves de Almeida é PhD em Inovação e professora há mais de 20 anos.
Autora do livro Educação Disruptiva para Professores (Desmotivados) Inovadores e criadora do método DISRUPT-R®, conduz mentorias, cursos e palestras voltados a educadores e instituições que desejam romper com o velho modelo e transformar o futuro do país por meio da educação.
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