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Apoio político de Trump se torna ‘desgraça’ para aliados estrangeiros

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Parcialmente poupado da diplomacia caótica de Donald Trump até o início da semana, o Brasil virou alvo de uma tarifa de 50% dos Estados Unidos nesta quarta-feira (9), quando o presidente americano anunciou a medida com uma carta pública ao presidente Lula (PT) na qual critica o julgamento de Jair Bolsonaro (PL).

Uma revisão do destino de outros políticos recentemente apoiados pelo republicano, porém, não animaria o ex-presidente brasileiro, já que figuras muito identificadas com Trump ao redor do mundo têm tido dificuldade de se eleger desde que o empresário voltou à Casa Branca, em janeiro.

Na Europa, por exemplo, o americano ainda não colheu frutos de sua influência neste segundo mandato. Um dos casos mais emblemáticos no continente ocorreu na Romênia, onde o ultradireitista pró-Trump George Simion enfrentou o centrista pró-União Europeia Nicosur Dan.

Simion havia vencido o primeiro turno das eleições com 41% dos votos -quase o dobro da porcentagem que Dan conseguiu alcançar, 21%- e era o escolhido de 54,8% dos eleitores a apenas dez dias do segundo turno, de acordo com uma pesquisa de opinião do instituto Verifield encomendada pelo seu principal adversário. Impulsionado pela forte presença de candidatos jovens no pleito, Dan por fim venceu as eleições com 54% dos votos, contra 46% de Simion.

Caso parecido ocorreu na Austrália, onde o Partido Trabalhista do primeiro-ministro Anthony Albanese enfrentou, no início de maio, Peter Dutton, um ex-policial de retórica linha-dura que representava o Partido Liberal. Ao longo da campanha, o opositor deu declarações ambivalentes sobre Trump.

Em fevereiro, por exemplo, quando o presidente americano falou em assumir o controle da Faixa de Gaza e transformá-la em uma “Riviera do Oriente Médio”, o político australiano reagiu afirmando que o republicano era um “grande pensador” com “desejo genuíno de ver paz e estabilidade” na região.

Já a posição de Trump em relação ao conflito na Ucrânia e à guerra comercial imposta pelas tarifas americanas foram alvos de críticas comedidas, insuficientes para descolar Dutton da figura de Trump.

“Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros enquanto constroem o futuro”, afirmou Albanese durante um discurso em Sydney, logo após vencer. “Não buscamos inspiração no exterior. Nós a encontramos aqui mesmo, em nossos valores e em nosso povo.”

O roteiro se repetiu nas eleições do Canadá, onde o Partido Liberal do ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, que acumulava o desgaste de dez anos no poder nas eleições de abril deste ano, virou uma alternativa segura em contraste com o estilo errático de Trump.

A sigla amargava queda na popularidade desde 2023, mas ganhou cerca de 20 pontos percentuais de aprovação, de acordo com as principais pesquisas do país, em cerca de três meses. A ascensão vertiginosa ocorreu a partir de janeiro, quando Trudeau anunciou que deixaria o cargo, e Trump subiu o tom em sua defesa de anexar o Canadá e transformá-lo no “51º estado americano”.

Mesmo quem não está em campanha tem sido recompensado por enfrentar Trump. No México, a presidente Claudia Sheinbaum, que já gozava de uma alta popularidade interna, ganhou projeção internacional como uma líder hábil no trato com o republicano.

O México é um dos países com mais rejeição a Trump entre 24 nações incluídas em uma pesquisa do Pew Research Center no começo de junho –91% dos mexicanos disse não ter confiança na liderança do republicano em assuntos internacionais.

Em 19 das nações onde o levantamento foi feito, a maioria da população também afirma não confiar no presidente americano. O Brasil é uma delas, com 61% dizendo não confiar em Trump, contra 34% que diz o contrário.

De acordo com especialistas, porém, ainda é cedo para avaliar se a tarifa vai despertar algum sentimento antiamericano e favorecer Lula. Há diferenças entre o cenário brasileiro e os das outras nações, que não encararam acontecimentos tão dramáticos como um impeachment, a prisão de um ex-presidente e uma tentativa de golpe de Estado em menos de dez anos.

Após a carta de Trump, o petista afirmou que o Brasil “é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. “O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, escreveu, em tom patriótico que costuma ser caro aos bolsonaristas.

Bolsonaro escolheu ignorar a medida, repetindo o argumento de que é perseguido pela Justiça brasileira. Já opositores do governo, que em grande parte viram com entusiasmo a eleição de Trump no ano passado, jogaram a medida no colo de Lula. “Depois de tantas ações provocando a maior democracia do mundo, tá aí o resultado do vexame da sua política internacional ideologizada”, afirmou Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

“Claramente a gente está vendo uma disputa de narrativas”, afirma a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker. “O governo Lula tem mais chances de conseguir implementar uma narrativa de que os bolsonaristas estão contra os interesses do Brasil se aliando a um inimigo.”

Para Carlos Gustavo Poggio, doutor em relações internacionais e especialista em política dos EUA, a medida deu ao governo um inimigo externo, o que pode trazer benefício a curto prazo para Lula, mas seu impacto econômico de longo prazo é difícil de prever.

“Eu não vejo o Trump ou os EUA como um fator crucial para as eleições brasileiras. Isso pode gerar um tipo de burburinho em alguns círculos, mas certamente esse não é o fator que vai levar Lula, Bolsonaro ou quem quer que seja a ganhar ou perder a eleição. No ano que vem a eleição vai ser decidido pela sensação de bem-estar econômico das pessoas como um todo”, afirma Poggio.

Notícias ao Minuto

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