O Dia Nacional dos Surdos, celebrado no dia 26 de setembro, é um convite à reflexão sobre inclusão, reconhecimento e valorização da cultura surda no Brasil. Os dados destacam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como patrimônio cultural e instrumento de cidadania, e encontram na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) um espaço de referência em acessibilidade e diversidade.
Na Ufal, a inclusão é realidade construída com dedicação e exemplos inspiradores. Entre eles está o professor Adeilson da Silva Alves , surdo profundo, formado em Letras-Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Natural de Maceió, ele relembra os dias em que vendia canetas e adesivos em ônibus antes de aprovação em concurso federal. Desde 2018, leciona em Delmiro Gouveia, no Sertão, formando estudantes e promovendo palestras sobre cultura surda.
Mestre em Linguística Aplicada pela própria Ufal, Adeilson defendeu dissertação sobre a inserção da disciplina de Libras na rede municipal de ensino de Maceió. Sua pesquisa, com impacto social direto, valoriza a formação docente e o direito à educação bilíngue. Fora da academia, já disputaram eleições em 2020 e 2022, sempre com a bandeira da inclusão.

A professora Magda Souto também é referência. Com trajetória iniciada no Centro Suvag, em Pernambuco, ela atua há 11 anos na Ufal. Para ela, chegar à universidade foi transformador:
“Além de realizar um sonho, assumi um papel de protagonismo em um espaço que já foi excludente. Nosso trabalho fortalece a acessibilidade e promove mudanças que beneficiam toda a comunidade acadêmica” .
Outro exemplo é o professor Magno Prates , surdo profundo e doutor em Linguística. Filho de família surda, ele dedica sua vida acadêmica a combater barreiras linguísticas e ampliar a visibilidade da comunidade surda.

“Não devemos ser estigmatizados: buscamos equidade e oportunidades. O protagonismo surdo não é exceção, mas parte da sociedade justa que desejamos construir” , afirma.
Estrutura de apoio à comunidade surda
A Ufal possui atualmente 32 estudantes surdos , entre graduação e pós-graduação, com suporte de intérpretes de Libras e uma rede de acolhimento articulada pelo Núcleo de Acessibilidade (NAC) .
São oito intérpretes efetivos na Faculdade de Letras, além de profissionais em Penedo, Arapiraca e 13 servidores temporários em Maceió. O trabalho vai muito além da sala de aula: inclui participação em bancos de TCC, defesas de mestrado e doutorado, eventos científicos e reuniões institucionais.
A coordenadora do NAC, Adriana Duarte , ressalta a importância desse esforço coletivo:
“Ainda enfrentamos desafios, mas seguimos ampliando espaços acessíveis e garantindo autonomia às pessoas surdas. Nosso papel é garantir que todos tenham participação ativa em todos os ambientes da universidade” .
Dados que simbolizam resistência
O 26 de setembro marca a fundação, em 1857, da primeira escola para surdos no Brasil, no Rio de Janeiro. Desde então, os dados passaram a simbolizar não apenas conquistas, mas também a resistência de uma comunidade que direitos essenciais, como o acesso à educação bilíngue e à plena inclusão social.
O Censo Demográfico 2022 do IBGE registra 2,6 milhões de brasileiros com deficiência auditiva . Apesar dos avanços legais, como a lei que introduziu a Libras em 2002, muitas barreiras persistem no mercado de trabalho, na educação e no acesso aos serviços públicos.
É nesse cenário que a Ufal se destaca, consolidando práticas concretas de inclusão e tornando-se espaço de referência para o fortalecimento da cultura surda. Como afirma o professor Magno Prates.

“Cada vez mais professores surdos conquistam espaço nas universidades. Inclusão não é apenas garantir o acesso às aulas, mas também vale a pena nossa atuação na pesquisa, na gestão e em papéis de liderança. A surdez não é barreira para a ciência nem para a educação” .