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Nefrologia veterinária em alta: envelhecimento dos pets e tecnologia empurram demanda por especialistas

A medicina veterinária brasileira vive um ponto de inflexão. Com a base de animais de companhia crescendo e envelhecendo, e tutores mais informados exigindo diagnóstico precoce e terapias de maior complexidade, áreas antes consideradas nicho — como a nefrologia e urologia de pequenos animais — tornam-se eixo estratégico de clínicas, hospitais e laboratórios.

Em 2024, o mercado pet no Brasil movimentou mais de R$ 75 bilhões, com projeção consolidada acima de R$ 77 bilhões, em linha com a expansão do consumo de saúde e bem-estar animal.

O país figura entre os líderes globais em população pet — cerca de 150 a 160 milhões de animais, incluindo 27,1 milhões de gatos — e vê especialmente a população felina crescer acima da média, o que altera o perfil de demanda por serviços clínicos. Em domicílios com mais felinos e pets mais longevos, aumentam os casos crônicos e a necessidade de acompanhamento contínuo.

Na prática, isso se traduz em consultórios com mais casos de doença renal crônica (DRC), condição altamente prevalente em gatos idosos e relevante também em cães. Estimativas indicam que até 30% dos gatos com mais de 15 anos apresentam DRC — percentual que em alguns recortes chega a patamares ainda maiores — enquanto cerca de 10% dos cães nessa faixa etária são afetados. O dado ajuda a explicar por que protocolos de triagem renal tornaram-se rotina em check-ups de pets maduros.

“Diagnóstico precoce e manejo racional salvam tempo, qualidade de vida e recursos do tutor. Quando avaliamos função renal antes do aparecimento de sinais clínicos, ganhamos meses — às vezes anos — de controle estável”, afirma Gloria Magalhães Rodrigues Ramos, médica-veterinária especializada em nefrologia e urologia de pequenos animais. Segundo a especialista, o estadiamento IRIS — diretrizes internacionais que balizam diagnóstico, tratamento e monitoramento da DRC e da lesão renal aguda — consolidou uma linguagem comum entre clínicos, laboratórios e hospitais, acelerando decisões terapêuticas.

Gloria Magalhães Rodrigues Ramos, médica-veterinária especializada em nefrologia e urologia de pequenos animais.

A virada tecnológica também pesa. Além da ultrassonografia e da análise de urina com avaliação de proteinúria, marcadores como a SDMA (dimetil arginina simétrica) vêm ganhando tração pela capacidade de indicar queda de taxa de filtração glomerular antes da elevação de creatinina — o que abre janela de intervenção mais cedo e com melhores desfechos. Estudos mostram que a SDMA detecta a disfunção renal de forma mais precoce e pode multiplicar o número de diagnósticos em estágio inicial quando incorporada a rotinas laboratoriais.

Para clínicas e hospitais, o movimento cria novos vetores de receita e exige capacitação. Serviços de nefrologia agregam consultas de seguimento, painéis laboratoriais seriados, imagem, protocolos de manejo de hipertensão, acidose metabólica, transtornos eletrolíticos e ajuste dietético, além de linhas de cuidado para infecções urinárias e doenças glomerulares e túbulo intersticiais. “A personalização do plano — da fluido terapia ao controle de proteinúria e da pressão arterial — reduz internações e melhora adesão. É medicina preventiva aplicada ao dia a dia”, diz Gloria.

A demanda por especialistas encontra um mercado de trabalho aquecido: o Brasil reúne cerca de 200 mil médicos-veterinários atuantes, com força de trabalho majoritariamente feminina e crescente presença em serviços de alta complexidade. Para as escolas e cursos de pós-graduação, a mensagem é objetiva: nefrologia e urologia estão deixando de ser ‘superespecialidades’ para ocupar espaço central na clínica de cães e gatos.

O avanço também reorganiza a competitividade regional. Capitais e polos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília concentram hospitais 24/7 e laboratórios com portfólio completo de biomarcadores, mas a difusão de guidelines e de exames como a SDMA vem interiorizando protocolos de excelência — inclusive por meio de teleconsultorias e parcerias com laboratórios de referência. “Hoje é viável acompanhar um paciente renal em cidades menores com o mesmo rigor técnico de um grande centro, desde que o clínico siga estadiamento e linhas de cuidado baseadas em evidência”, avalia Gloria.

Do lado do tutor, a disposição para investir em saúde preventiva é coerente com o novo ciclo do mercado pet: mais gasto per capita, maior expectativa de vida dos animais e preferência por planos de cuidado que ofereçam previsibilidade financeira e acompanhamento longitudinal. O crescimento da população felina — que tende a conviver em espaços menores e tem particularidades metabólicas — deve manter a nefrologia no radar estratégico de redes e independentes pelos próximos anos.

Perspectiva — Com um mercado doméstico de grande escala, envelhecimento da base de pacientes e adesão rápida a exames e protocolos internacionais, a nefrologia veterinária deve seguir como uma das linhas de especialidade de maior tração no país. Para clínicas, hospitais e laboratórios, o ganho de valor virá de três frentes: (1) triagem sistemática de pacientes maduros, (2) adoção de painéis diagnósticos que antecipem a queda de função renal e (3) programas de seguimento estruturados por estadiamento IRIS. “Não é tendência: é maturidade clínica. Quem organizar a casa agora estará à frente quando esse padrão for exigência básica do tutor”, conclui Gloria.

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